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domingo, maio 29, 2005

Danças Ocultas

Quando se começa nestas andanças sem qualquer tipo de pretensões ou intenções, sem querer mais do que experimentar a "sensação mágica e estranha" de colocar as nossas palavras simples ao (eventual) alcance do olhar dos outros, torna-se saboroso perceber que há mesmo quem veja e que há até uma boa meia dúzia que parece gostar do que lê!
Deste patamar inicial até à veleidade de sugerir aos outros coisas de que gostamos, vai um passo rápido. É a isto que uns chamam partilha, outros cumplicidade, outros ainda encontro.
Pois bem, partindo do principio de que quem nos lê possa ter alguns gostos semelhantes aos nossos, aqui vai então uma sugestão musical: O CD chama-se "Danças Ocultas" é da Pulsar e conta com composições trazidas até aos nossos ouvidos, por artistas como Maria João e Mário Laginha, Gaiteiros de Lisboa, Abed Azrié, Gabriel Gomes, José Salgueiro, Edu Miranda, entre outros.
Os temas têm todos o fundo sonoro ou o sonoridade principal oferecidos pelo acordeão e/ou pela concertina. Quase todas as composições nos presenteiam com nuances acústicas do Sul e do Deserto... (Porque será?... Já andávamos a ouvi-lo alguns dias antes do Festival Islâmico...)
Gostamos particularmente de "Fantasia", "Sorriso, "Porto Seguro", "Distância", "Sirocco", "Pandora"... Sentimos que deambulamos, em passeio por... "n' importe oú", em movimentos de dança, com estas "Danças Ocultas".
P.S. Para ouvir no carro ou -baixinho- no local de trabalho (dão asas à liberdade criativa).
Também acompanham bem uma boa refeição ou qualquer outro acto de Amor!

A Grande Aventura Por Explorar

A propósito do post anterior e da nossa amiga Aisha, não podemos deixar de recomendar uma visita ao seu "mundo". Pode perceber-se um pouco deste "despertar dos sentidos" em www.grandeaventura.pt
Nas palavras da AGAPE-A Grande Aventura Por Explorar, uma expedição ao deserto é uma viagem ao interior do ser, apurando todos os sentidos para o que nos rodeia!

Sensações Islâmicas

Talvez uma questão de perfumes. É isso. Se fecharmos os olhos (apesar de ter passado uma semana), talvez seja a memória dos odores a mais persistente. Incensos, especiarias, chás. A mistura dos cheiros mais "mouriscos" estava ali, ao alcance do nosso sentido olfactivo. Também ali estava a paleta cromática mais diversa que imaginar se possa. As tendas, as mantas, as roupas, os turbantes, as pulseiras, os colares, os espelhos. E as tatuagens!
E estavam sons de vida e misticismo. As pessoas que regateavam no Souk e ao mesmo tempo o acordeão que comunicava a sua alquimia de fantasias sonoras. Estávamos em Marrocos, parecia!
As ruelas de Mértola com todo o seu mudejarismo e mais o encanto do Guadiana a correr, a correr, transportam-nos realmente ao magrebe. E entretanto o calor, claro!
A nossa Moura, sentia-se em casa! Os seus antecedentes quiçá mesmo marroquinos (de quando os tetravós iam da Meia Praia até às costas do Norte de África), revelados na sua tez cor de café-com-leite, enquadravam-na perfeitamente no ambiente. E de repente (claro que tinha que lá estar) a outra Moura das nossas vidas: a -auto-apelidada- Aisha Berbere, amiga de há vinte anos, sempre mística, sempre alcançando estados de alma um bocado diferentes dos nossos, sempre tão verdadeira e tão coerente...vinte anos e o mesmo fio condutor de vida, os caminhos percorridos com poucas variações de conteúdo. Porque esta Aisha (amiga Cristina) sempre acreditou na sabedoria de certos Homens e nas alternativas à "coisa ocidental"...
Ali estava ela. Sentada no chão, vestida como as suas "irmãs islâmicas", a saudar-nos e logo de seguida a convidar-nos para a sua manta estendida, para nos servir um chá de menta feito por ela! Amizade é isto, estar em comunhão mesmo com o passar dos anos e com o trilhar de caminhos diferentes. Mas não distantes, já que a essência e o sentir continuam muito idênticos aos que eram dantes. Ficámos emocionados com este reencontro e sentimos que nada acontece por acaso. A nossa amiga Aisha lá ficou sentada sobre si mesma, a promover as suas viagens de Jipe a Marrocos, para se chegar a um local que (nas suas palavras) muda a vida das pessoas! E nós um dia destes queremos experimentar!
Já vai longa a conversa. Ainda temos que falar da Tagine de Borrego.
Estava fácil de apreciar, naquele ambiente e com as emoções da manhã! Estávamos numa "onda de gostar". Por isso, e apesar da displicência de atendimento e da confusão do Restaurante "Clube Náutico" (desculpável por se tratar de um dia de multidões), até apreciámos o borreguinho tenro, envolvido pelo molho, pelas tâmaras, pelo ananás e acompanhado pelo arroz com muito açafrão e poucas passas (ainda bem). O tinto "Monte Velho" que vai bem com quase todas as carnes, foi a escolha. Para não haver percalços gustativos. Os sabores misturaram-se na perfeição com o estado de espírito, com a agitação do local, com o calor. Boa preparação para a "meia hora de passeio de barco" que se seguia.
Bom, não foi a meia hora anunciada ("helás") mas os 15 minutos de percurso, tiveram sabor de sobremesa, envolta em brisa e em cântigas de pássaros. A nossa pequena e "selvagem" Moura, descalçou-se, arregaçou a saia e lá foi com os pés de fora virada para a água, numa dança de pernas ao léu! (Momentos que ficam fotografados nas nossas memórias de pais....ainda bem que temos aqui o lenço...:-))
Depois desta bonança tivemos um pequena tempestade... Por causa de uma tatuagem!!... Houve um chorinho e um levantar de vozes, que não deu no entanto para retirar o que tinha ficado de bom deste dia: o misticismo dos rituais, a miscelânia de referências culturais, a panóplia de sabores e odores. E o nome dela em árabe. Para mais tarde recordar!
Não se fala muito de comidas ou bebidas neste texto. Fala-se mais de sensações. Porque afinal, gira tudo à volta disso, não é?

sábado, maio 28, 2005


A nossa "parte" mais selvagem Posted by Hello
...ou a forma da escrita no Festival Islâmico de Mértola.
Breve, breve, falaremos dos perfumes de sábado passado à beira Guadiana!

terça-feira, maio 24, 2005

Oooohhhh! A foto do "Entardecer" saíu um bocado... desfocada! Still a lot to learn!
O que conta é a intenção e a mensagem subjacente.



Nota: Agora andamos sem tempo para textos com cabeça, tronco e membros...mas o gast'reat' não acabou... A luta há-de, a breve trecho, continuar!

sábado, maio 21, 2005


Entardecer Posted by Hello

sexta-feira, maio 20, 2005

Momentos, celebrações e partilhas

De repente, recordámo-nos de um episódio das últimas férias da Páscoa e apeteceu-nos falar sobre ele. A propósito de momentos simples, mas que se tornam importantes ao serem vividos e lembrados.
Estávamos de novo no Hotel Astória das Termas de Monfortinho. Tínhamos guardado durante algum tempo uma garrafa (das mais pequenas, daquelas que tão bem servem duas vontades) de Moet et Chandon. "Para beber num momento de celebração", disseramos.
O momento chegou naquela tarde, depois da piscina e antes do jantar. Tarde fantástica de início de primavera, em quarto com vista para o jardim e para as montanhas espanholas, lá ao longe.
Apeteceu-nos bebê-lo como aperitivo do jantar, que sabíamos iria ser bom, no Restaurante do Clube de Caça. Apeteceu-nos morangos para acompanhar, comme il faut.
Não havia, no entanto, morangos. Nem no hotel nem na mercearia lá ao pé. Então, comprámos maçãs!
E que bom que foi. Aquela preciosa garrafinha, mergulhada no frapé cedido pelo hotel, ficou gelada, o borbulhante líquido incluso também, e foi um deleite. Os pedacinhos de maçã acompanharam afinal na perfeição aquele champagne perfeito. E assim, brindámos à vida e a algumas pequenas/grandes conquistas que sentíamos ter alcançado nos últimos meses.
O nosso "apêndice" (melhor, a nossa "pequena apêndice") também participou no momento de prazer: o seu Compal de laranja serviu na perfeição para acompanhar a maçã e a ocasião!
É este texto a propósito de momentos, de celebrações, de partilhas. Principalmente, a propósito de cumplicidades e de encontros em torno das coisas boas da vida. Acreditamos que momentos como este, fazem parte da lista dos melhores legados que vamos oferecendo um ao outro. E das melhores "heranças" que podemos deixar à nossa filha!

quinta-feira, maio 19, 2005

O Vinho

A vinha é uma das culturas mais antigas da humanidade. Sendo a Palestina, com outros países do Mediterrâneo, uma região vinícula, era natural que os autores bíblicos não apenas falassem do "fruto da videira", mas utilizassem este termo com frequência para referir realidades superiores, espirituais: o vinho como símbolo da vida, da sabedoria e do conhecimento, da alegria e da festa, do banquete messiânico e da Eucaristia.
Mas, não sabiam os antigos, que o vinho (tal como a palavra e a sabedoria), iria "espalhar-se" por todos os continentes, enquanto actividade agrícola e também de cariz cultural. Por outro lado, passaria a ser reconhecido como um dos principais "embaixadores" e promotores da identidade das nações capazes de produzir (com qualidade) tão delicioso néctar.
Com isto, queremos dizer, que nos dias que correm não é só o nosso vinho que chega ao consumidor final, quer nos restaurantes quer nas zonas comerciais. Existem já bastantes marcas disponíveis no mercado, que atestam a diversidade e qualidade de vinhos que "viajam" do continente Americano, Africano e mesmo Austral até às nossas mesas. Deixamo-vos uma pequena "prova" de alguns dos mais interessantes que apreciámos recentemente:
Itália - Canti Bianco, Vino de Tavola (cuvée 12%), 2003;
África do Sul - Penfolds Tinto, Koonunga Hill, Shiraz Cabernet (vintage 13,5%), 2001;
França - Bordeaux Tinto, Expert Club, Réserve de Velours (12,5%), 2003;
Chile - Viajero Branco, , Sauvignon Chardonnay (13%), 2004;
EUA - Baywood Tinto, California, Ruby Cabernet (12,5%), 2003; (O melhor destes tintos)
Espanha - René Barbier Classic Tinto, Penédes, (Garnatxa, Monastrell e Tempranillo 12,5%), 2002;
Australia - South Eastern Australia Branco, Semillon Chardonnay (12,5%), 2004.
Sem desprestígio para os vinhos nacionais, existem outros excelentes exemplares de qualidade que se encontram ao nosso dispôr.
Não inibam, portanto, o V. palato e provem alguns destes vinhos. Será mesmo uma forma de tentar perceber, em que medida podem os nossos vinhos competir internacionalmente.
Perceber a dinâmica do mercado dos vinhos, além de uma importante questão relacionada com a economia nacional, é uma questão de atitude e competitividade empresarial. Devemos, cada vez mais, tentar exportar uma boa imagem e uma imagem de valor dos nossos produtos.

A primeira imagem

A foto "primavera no campo", serviu para percebermos se já conseguimos colocar fotos no gastr'eat'.

Como se vê, trata-se de uma primavera fácilmente "transportável" também para a cidade...ou para qualquer local.

Agora que já sabemos colocar aqui imagens...nos aguardem!!

terça-feira, maio 17, 2005


Primavera no Campo Posted by Hello

segunda-feira, maio 16, 2005

"Tradición" de René Barbier Classic 2002

Sabemos que há em Portugal vinhos de alta qualidade, de norte a sul do país. Do Dão à Bairrada, do Ribatejo ao Alentejo, muitos são na verdade os bons vinhos portugueses. Um dia destes, dedicaremos um texto ao tema "Vinhos", no qual procuraremos aprofundar um pouco este assunto, ou melhor, a nossa modestíssima opinião sobre o mesmo.
Salvaguardando o que foi dito acima, deixem-nos chamar a V. atenção, neste pós-almoço, para um vinho produzido e "embotellado" em Espanha. É o René Barbier, Classic 2002, elaborado a partir de três castas típicas da região "del Penédes". Tão harmonioso de aroma e sabor, que o difícil foi parar. "Não posso comer mais favas"*, foi a desculpa para saír da mesa e desviar o olhar do que ainda restava na garrafa.
A grande surpesa é o preço. Por cerca de 3 euros (pasme-se) compra-se este vinho. Também por um preço aproximado, compram-se óptimos néctares dos nobres "frutos da videira", provenientes do Chile ou da Califónia!! **
* Por falar em favas (agora que ainda é tempo delas), com rodelas fininhas de chouriço e pequenos cubos de toucinho fumado, comem-se que é uma festa! Pormenor de grande importância: só devem ser colocadas no tacho, quando neste já "murchou", ligeiramente frita no azeite alentejano, a "boneca"- raminho verde- escuro composto por folhas de alho, coentros e hortelã, atados a preceito com uma linha ao redor, em jeito de cintura... - Que cheirinho e que sabor!!
** Por falar em nobres "frutos da videira", quem não viu o filme Sideways deverá fazê-lo já!

Congresso de Profissionais de Cozinha

E porque no texto anterior se falava numa escola que forma profissionais de cozinha, informamos que a escola do Estoril vai receber, nos dias 30 e 31 de Maio, profissionais para demonstrações de cozinha e debates.
Com efeito, vão reunir-se no mesmo local durante dois dias chefes de cozinha, especialistas da área de vinhos, donos de restaurantes, alunos e professores, jornalistas, críticos e outras pessoas ligadas ao sector, para em Congresso discutirem assuntos relacionados com técnicas e receitas.
O I Congresso Nacional de Profissionais de Cozinha, servirá sobretudo para serem efectuadas demonstrações quanto à confecção e ao empratamento, pelas mãos de cozinheiros como José Cordeiro ou Sérgio Vieira, o luso-descendente francês que ganhou o último concurso "Bocuse D'or".
Haverá ainda lugar a debates sobre o associativismo, gastronomia molecular, vinhos e a apresentação de um estudo do antropólogo Bernardo Dias da Costa sobre as referências
alimentares dos chefes.
I Congresso Nacional de Profissionais de Cozinha
Local: Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril
Datas: 30 e 31 de Maio
Inscrições: 218 822 992

Em Alvito, para além do Castelo...

Na semana passada, tivemos o prazer de experimentar um buffet servido pela Escola Profissional de Alvito. Apesar do local onde decorreu o serviço (espaço multiusos do C. Cultural de Alvito) se encontrar práticamente desprovido de decoração, não ter uma luz muito agradável e não haver qualquer fundo musical (não estávamos na verdade em nenhuma sala normal de restaurante), o buffet foi um prazer. Por duas razões principais: a primeira foi a diversidade de pratos do buffet, aliada à sua qualidade de confecção, a segunda foi o serviço cortez e simpático dos rapazes e raparigas que serão, se continuarem a trabalhar para isso, os bons profissionais de hotelaria do futuro. Destacamos aqui o desempenho profissional do Chefe/Professor Lascas que tão bem orienta aqueles jovens. Percebe-se que alia os conhecimentos adquiridos, ao gosto e ao empenho e sente-se que é uma pessoa "com mundo". Estamos certos que estará à altura de qualquer desafio profissional.
Quanto à confecção, tiramos o chapéu ao Chefe Santos, que tantos anos de dedicação tem oferecido a esta causa. Com a sua ajuda, têm nesta Escola sido formados profissionais que são exímios na sua arte, havendo casos de sucesso de alunos de Alvito nos melhores hotéis (Ritz, Pousadas, etc.).
Destacamos do que foi possível provar (já que mais não cabia no nosso estômago), a salada de couve roxa com canela (que gostinho especial), a salada de couve branca (al dente) com pedacinhos finissímos de toucinho fumado e a sopa de cação com coentros! Com o seu caldo espesso mas deslizante e perdida de amores pelos coentros, esta sopa envolveu-nos de imediato o palato, despertando-o para os sabores que se seguiram. Dos doces não rezou (para nós) a história. Chegou-nos aos ouvidos no entanto, que a maçã reineta assada bem como o leite creme, cumpriram muito bem os propósitos.
Por nós, tínhamos ficado já adocicados pelas uvas da Herdade do Meio. Esta Herdade, situada no concelho de Portel, produz o vinho Outeiro da Águia, que só podia ser divino, ou não fosse o vinho "Rota do Fresco". Suave e com persistência aromática em quantidade e qualidade apreciáveis, é um vinho que se recomenda e que se começa a beber logo com os olhos. (Gostamos particularmente do contra-rótulo em que se vê um pouco de uma pintura a fresco, representando um anjo).
Foi um almoço agradável, portanto. Além do mais, serviu para nos recordar que em Alvito existe uma Escola Profissional com gente muito válida e que deve ser "aproveitada" também no que respeita à imagem do concelho.
Deixamos, entretanto, uma questão: Porque não transformar esta Escola também em restaurante aberto ao público? Conhecemos outros casos em que tal se faz com bastante sucesso, por exemplo, na Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril .

"Caracóis do Batatinha", bons como poucos!

Que chatice!!
Depois de um texto "a abrir" sobre os "caracóis do Batatinha" (estava a saír correr tão bem que até já nos cheirava a oregãos) eis que um corte de energia levou tudo! Por isso, agora, já só dizemos:
Vão ao Café "Da Vila", na outra terra dos Barões,Vila Nova da Baronia, e peçam um pires (dois pires, três pires) de caracóis! Os ditos, feitos a rigor pela D. Romana "Batatinha" apresentam-se como poucos. Do melhor que há em caracol!
Para que certos dias luminosos pareçam ainda mais brilhantes... ou então para dias algo cinzentos (como o de sábado passado em que a nossa equipa verde perdeu), como forma de nos manter ainda um brilhozinho de esperança - verde, claro - nos olhos!

segunda-feira, maio 09, 2005

Um (doce) romance de sabores e afectos

No seguimento do post anterior, apetece-nos dizer que a poesia é na verdade tão essencial à vida como a gastronomia. Pode, aliás, constituir o seu melhor tempero. A ausência de poesia na vida das pessoas é causa de grande descontentamento e insatisfação. Vidas sem poesia são vidas sem sabor! Está dito.

E agora, retomemos pois a temática.
Em virtude de estarmos a atravessar um período de menos "tempo" (leia-se euros) para incursões gastronómicas dignas de destaque, lá teremos que ír saboreando letras... de obras marcantes recheadas de sabor e emoção.

Aqui vai:
"Uma longa pausa. Enchi um copo para mim, com licor noisette e pedacinhos de avelã. O aroma era forte e inebriante, como madeira empilhada ao sol crepuscular do Outono. Guillaume comeu a sua religieuse com um prazer minucioso, depenicando as migalhas com o indicador húmido".

A história passa-se em Lansquenet, pequena aldeia de França, com gente conservadora, pouco dada a novidades. Vianne Rocher, jovem mãe solteira, e a sua filha Anouk, trazem para este pequeno mundo um negócio aromático, guloso e pouco comum: "La Céleste Praline", uma chocolataria repleta de sabores sofisticados. Na posse deste comércio tentador, mãe e filha (frescas e simpáticas) encontram algumas dificuldades de integração, particularmente quando têm que confrontar-se com o jovem, mas austero, pároco local.

Depois de viagens já passadas, acabam por assentar arraiais na aldeia, vencendo os obstáculos através de doces sabores e saborosos afectos: "Grande Festival do Chocolate em La Céleste Praline; Começa Domingo de Páscoa; Todos Bem-Vindos". Diversas actividades e atitudes similares a esta, deixam todos surpreendidos e convencidos a acreditar que "... ser feliz é a única coisa importante. Felicidade. Tão simples como um copo de chocolate, tão tortuosa como o coração. Amarga. Doce. Viva." É no que acredita Vianne. Por isso imagina que, mesmo que este negócio fique pelo caminho, poderá abrir outro com outro nome, talvez noutro local. Onde possa sempre levar frescura e doçura, particularmente a gente amarga. "La Truffe Enchantée" ou "Tentations Divines", são nomes que lhe surgem enquanto canta uma canção para adormecer Anouk.
Entretanto, nova vida dentro dela gira suave, docemente. Bonito, ameno e rico. "Chocolate" de Joanne Harris.
Dentro deste livro guardamos dois desenhos oferecidos pela nossa filha. A lembrar dias doces com sabor a férias!

Gastronomia rima com poesia

Neste cantinho de cheiros e sabores, também cabem as palavras dos poetas. Que mais não seja, porque gastronomia rima com poesia, sabedoria e alegria!
Alegria por termos amores e amigos que tornam a nossa vida bem mais fácil...quando nos oferecem palavras sentidas e com sentido.
E portanto:
" Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
Que é uma arma de dois gumes
Amor e ódio
Não posso adiar
Ainda que a noite pese séculos sobre as costas
E a aurora indecisa demore
Não posso adiar para outro século a minha vida
Nem o meu amor
Nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o meu coração"
\António Ramos Rosa\
Sempre oportunas as palavras do poeta, trazidas pelas mãos de uma querida amiga!
Hoje, o poema também nos levou a recordar que passam 60 anos sobre a rendição alemã que levou ao fim da IIª Grande Guerra...
Para que nunca se repita tamanha desumanidade, não podemos adiar o amor!

sábado, maio 07, 2005

Laura Esquível: "Como Água para Chocolate"

Romance admirável e que surpreende a cada instante, pela revelação do prazer dos sentidos e pela liberdade criativa da mulher. Em volta da mesa e das receitas fora do comum é possível celebrar a vida e chegar a um êxtase conseguido através de temperos e de odores. Há momentos verdadeiramente especiais nesta obra, os quais nos permitem soltar a imaginação e a vontade. O que aqui surge como mais belo e admirável, é o poder determinante das combinações culinárias e espirituais que culminam em receitas cujos efeitos são totalmente inesperados.

Os chiles em nogado, por exemplo, que depois de degustados provocam sintomas de desejo incontrolável:
" (...) Reconheceu imediatamente o calor nas pernas, as cócegas no centro do corpo, os pensamentos pecaminosos, e decidiu retirar-se com o marido antes de as coisas chegarem a mais. (...) Quando Tita e Pedro se aperceberam só restavam no rancho John, Chencha e eles os dois. Todos os outros já se encontravam no local mais afastado a que puderam chegar, fazendo amor desenfreadamente". Ilustrativo e revelador do poder afrodisíaco dos alimentos, quando cozinhados com paixão, claro!

Este é um livro de risos e prantos, amores e desamores, tristezas e alegrias. Também de morte, mas essencialmente de vida: a tia-avó de Tita continuará a viver enquanto houver alguém que cozinhe as suas receitas!

E assim se renasce através da comida, dos sentidos e das palavras!

Nota 1ª)
Chiles - Nome genérico de uma enorme variedade de pimentos e malaguetas, existentes no México, cada um com sabor e picante diferentes.

Nota 2ª)
Caro Nikonmann, é evidente que acertou em cheio. Atento e conhecedor, conforme é seu apanágio!
Quanto ao que ganhou, lamentamos informar que não nos é possível oferecer-lhe uma noite free of charge na Pousada:-))
Mas preço de amigo, seguramente podemos conseguir-lhe! Quando quiser vir, teremos muito gosto em sensibilizar quem de direito no sentido de facultar-lhe o melhor acolhimento ao mais baixo preço. Para que possa pernoitar com a sua cara-metade no Paço-Acastelado dos Barões, acordar ao som dos pavões e, quem sabe, provar uma iguaria cujo efeito seja tão surpreendente como o das Tortas de Natal ou Chiles em Nogado da tia-avó de Tita!!

quarta-feira, maio 04, 2005

Onde se celebra o triunfo da alegria e da vida....

Na primeira página, parágrafo segundo desta obra, a autora escreve o seguinte: "Dizem que Tita era tão sensível que quando ainda estava na barriga da minha bisavó chorava e chorava quando esta picava cebola; o choro era tão forte que Nacha, a cozinheira da casa, que era meio surda, o ouvia sem se esforçar. Um dia os soluços foram tão fortes que fizeram com que o parto se adiantasse.
(...) Tita chegou a este mundo prematuramente, em cima da mesa da cozinha, entre os cheiros de uma sopa de aletria que estava a ser cozinhada, do tomilho, do louro, dos coentros, do leite fervido, dos alhos e, é claro, da cebola..."

Quase se vê o quadro, quase se sentem os cheiros e a força de vida! Com este bocadinho de prosa tão apelativa para os nossos sentidos, já é mais fácil "adivinhar" de que livro falamos...ou não?

A autora (já tinhamos dito que é de uma autora que se trata) é mexicana e este foi o seu primeiro romance, traduzido em numerosos países e adaptado ao cinema.

Sábado será o dia de saber tudo.

terça-feira, maio 03, 2005

Onde se "cozem e temperam" amores e desamores

Seguindo o que tão bem faz um blog que muito apreciamos (Aliciante desculpe o abuso), aqui deixamos um Repto. O nosso é gastronómico-amoroso, claro!:

"Para a mesa e para a cama uma só vez se chama"

Em que romance imperdível está escrita esta frase?

Daqui a pouco levantaremos mais um bocadinho do véu...

Prémio: Ficar a saber tudo sobre esta surpreendente narrativa! (Desculpem...quem dá o que tem...)

segunda-feira, maio 02, 2005

Entardecer em Viana, no "Fonte Figueira"

Foi bonito o entardecer!
Era Dia da Mãe e, já que esta não tinha almoçado em família (Ovibeja a quanto obrigas!) foi convidada a ír "jantar fora"!
Convite aceite, claro! "Tem é que ser perto que estou muito cansada...." Pedido aceite, óbvio: "É já ali"!
Foi assim que voltámos a um restaurante já muitas vezes visitado, mas onde não íamos há dois ou três meses.
O "Fonte Figueira" à entrada de Viana do Alentejo (lado direito de quem vem de Beja), prima pela diferença, isto é, não tem uma "alentejanice" muito óbvia, apesar de estar em pleno Alentejo. E nós, que gostamos tanto de comidas (e bebidas!) alentejanas, por vezes sentimos necessidade de ...variar, naturalmente!
O entardecer estava bonito e quase convidava a ficarmos logo ali fora na simpática esplanada. Mas, como havia um pedido da filha (por cumprir há que tempos) de jogar snooker com os pais(!), entrámos na sala anexa ao bar e ao restaurante, levados pela voz quente de Diana Krall. Sózinhos naquele espaço amplo, com paredes cor de laranja, luz pela janela em quantidade suficiente para dar um ambiente "cosy" e levados pela onda musical, pedimos duas imperiais e um sumo de laranja natural (para a "piquena") por forma a ír entretendo o jogo. Imperiais bem tiradas e sumo de laranja verdadeiro, satisfizeram o palato e acompanharam muito bem o "snooker a 3 mãos".
O calmo, simpático e educado anfitrião (qualidades dificeis de reunir em alguém que é ao mesmo tempo proprietário e "empregado"), chamou-nos à mesa da sala de jantar (de tectos altos forrados a madeira clara e paredes também alaranjadas), onde chegaram em simultaneo os "Lombinhos à D. Maria". Prato apreciável pela grande qualidade da carne e pelo saboroso molho, diferente em sabor e textura de muitos outros que nos têm sido apresentados (com natas é certo, mas com segredo nos acrescentos, o que o torna distinto e só comparável por estas bandas ao do "Vila Velha"). As batatas muito boas, finissimas e em rodelas, fazem lembrar as das nossas mães (queridas mães que dantes parece que tinham todo o tempo do mundo para nos cozinhar pratos perfeitos). A salada multicor e bem "avinagrada" não tinha falta de nada, nem da couve roxa que tão bem faz aos olhos e ao coração! A imperial tinha servido tão bem os propósitos (nosso e dela), que com ela continuámos, até porque a essência de cevada muitas vezes acompanha (quase) tão bem como o vinho, certos sabores do entardecer.
O serviço de apreciada gentileza fez-nos sentir confortáveis e bem dispostos do principio ao fim. O mesmo valeu para a música: o café foi tomado ao som do eterno Miles Davis. Que maravilha!
Chegáramos ao entardecer. Por isso, e porque os Dias da Mãe são sempre em véspera de ír à Escola, saímos também cedo. Ainda houve tempo para a filha ír a correr, apanhar uma papoila e oferecê-la à mãe como último presente do dia. (Não é verdade! O último presente do dia foi o beijo e o sorriso, dois em um, antes dela se virar para o lado e adormecer)!
Quando os jantares "caem" tão bem, tudo parece ainda melhor.
Recomendável este "Fonte Figueira", já se vê. Para aqueles dias em que é preciso fugir um pouco às migas e ao cante...

Nota: Também recomendável para apreciadores de pintura ou fotografia. É que, de vez em quando, as paredes ficam mais bonitas por causa dos trabalhos ali expostos.