Click for Lisbon, Portugal Forecast

quarta-feira, abril 27, 2005

A Sul da Lusitânia

O Restaurante Sulitânia apelida-se como Casa de Comes e Bebes. Contudo, é muito mais que uma simples casa onde se come e se bebe! É um verdadeiro "oásis" em terras alentejanas: no que respeita à arquitectura, decoração, design e serviço.
No Vimieiro e numa rua muito discreta, encontrámos um verdadeiro lugar de "culto" para qualquer comensal... que se preze de o ser.
Com uma arquitectura de linhas direitas, é um local onde a decoração e a arte do manjar se conjugam numa harmonia reconfortante. Espaço simples mas algo sofisticado, que mais não seja pelo belo piano, bem "arrumado", num pequeno recanto. A música, apesar de não emanar do dito, é "jazzy" e constitui o melhor acompanhamento sonoro que desejar se possa.
Dispõe de uma garrafeira apetecível (tintos e brancos), onde os néctares alentejanos são reis, com particular destaque para o tinto de Pias, que provámos. Quanto a entradas, foi a Alhada de Raia a que mais nos agradou. Dos pratos principais, mais do que as Burras Assadas (bochecha de porco no forno), foi o acompanhamento de Arroz de Feijão com Pataniscas estaladiças e fininhas que nos "encheu a alma".
Quanto ao serviço, personalizado e discreto em dose moderada, revelou-se numa empatia entre quem recebe e quem chega. Divido por duas salas, uma no piso inferior e outra no 1º andar, o restaurante não dispõe de mais de 50 lugares sentados. O balcão num estilo "taberneiro", apresenta uma montra com entradas e sobremesas apetecíveis.
Com um bom rácio qualidade/preço e todos os predicados da arte de bem receber, é casa para voltar, com amigos ou tão só (o que já não é pouco!) para "namoriscar" com a nossa alma gémea.

sábado, abril 16, 2005

Literatura e Comida

Quando os sabores e os locais não merecem qualquer menção especial, pelas mais variadas razões, os livros são um bom substituto para podermos comentar algo.
Desta feita falaremos sobre, o primeiro livro de cozinha publicado em Portugal (1680) por Domingos Rodrigues, com nova edição em 2001, da Colares Editora e com prefácio de Alfredo Saramago. Esta obra traz-nos os saberes e os prazeres dos finais do séc. XVII no que respeita à "Arte de Cozinha", nome do livro que vos apresentamos.
Dedicado ao Conde de Vimioso e dividido em três partes, a primeira "... trata do modo de cozinhar vários pratos de todo o género de carnes, e de fazer conservas, pastéis, tortas, e empadas. A segunda parte trata de peixes, mariscos, frutas, ervas, ovos, lacticínios, doces, e conservas pertencentes ao mesmo género. A terceira trata da forma de banquetes para qualquer tempo do ano, e do modo como se hospedarão os Embaixadores, e como se guarnece uma mesa redonda à Estrangeira."
Em Portugal reinava D. Pedro II, casado com D. Maria Francisca de Sabóia (nascida em França) filha do Duque de Nemours onde La Varenne (François Pierre de seu nome) foi cozinheiro particular. Nesta época a gastronomia era considerada um dos aspectos da nova personalidade francesa, quando o pretígio político e cultural da França, em especial do seu Rei Luis XIV se afirmavam na Europa.
La Varenne publica em 1651 o seu livro chamado "Cuisinier François", com cerca de 100.000 exemplares editados na época, tendo sido uma referência para a pequena burguesia e para as donas de casa que procuravam receitas aristocráticas para os seus jantares e festas.
A influência da cozinha francesa e dos hábitos que a rainha trouxe consigo para Portugal, são determinantes na obra de Domingos Rodrigues, que reflete perfeitamente o que se passava na corte e nas grandes casas de França. O cozinheiro português teve oportunidade de servir uma rainha que se interessava pela boa cozinha e que provinha de uma família conhecida pelos bons cozinheiros.
Para publicar o seu livro, apesar de ser o cozinheiro real e por isso usufruir das regalias inerentes, teve que pedir autorização ao Tribunal do Santo Ofício, tendo sido pelo facto do Papa ter também cozinheiro que o despacho do encarregado da Inquisição foi mais favorável.
Não deixem de "saborear" esta obra ímpar da gastronomia e da nossa herança cultural e abram "apetite" para ler outras obras da Colares Editora que muito tem feito na recolha e publicação de obras sobre a temática da gastronomia.

segunda-feira, abril 04, 2005

Clube de Pesca e Caça

Aqui, a tradição ainda é o que era!
Falemos pois, do restaurante do Clube de Pesca e Caça nas Termas de Monfortinho (concelho de Idanha-a-Nova). Pela terceira vez, visitámos o local e jantámos neste magnífico espaço da raia Beirã, de onde se podem avistar montes e vales de "nuestros hermanos". Local de eleição no que respeita à paisagem, tudo se conjuga quando podemos desfrutar da quietude e do manjar (em especial da caça) que está à nossa disposição. Desta feita, escolhemos uma Alheira de Caça e um Lombo de Veado grelhado e guarnecido com setas salteadas (espécie de cogumelos). Acompanhámos com um tinto regional de Piornos de qualidade apreciável.
Com uma decoração a recordar os antigos locais de caça e pesca que só se veêm nos filmes, todo em madeira, com vidros amplos, lareira e sala com sofás e luz acolhedora, aqui também se pode beber um aperitivo antes do manjar. Porque o tempo "pára" mesmo!
O serviço é bom, porém os empregados por vezes pecam por querer "agradar" demasiado, não sabendo quando devem dirigir-se aos clientes. Simpáticas como as gentes beirãs, também são as sobremesas (buffet) onde o arroz doce é rei.
Recomenda-se a visita a este local em época baixa e o alojamento no Hotel Astória ou no remodelado Hotel Fonte Santa. Se for esta a sua escolha verá que não se arrepende!