Literatura e Comida
Quando os sabores e os locais não merecem qualquer menção especial, pelas mais variadas razões, os livros são um bom substituto para podermos comentar algo.
Desta feita falaremos sobre, o primeiro livro de cozinha publicado em Portugal (1680) por Domingos Rodrigues, com nova edição em 2001, da Colares Editora e com prefácio de Alfredo Saramago. Esta obra traz-nos os saberes e os prazeres dos finais do séc. XVII no que respeita à "Arte de Cozinha", nome do livro que vos apresentamos.
Dedicado ao Conde de Vimioso e dividido em três partes, a primeira "... trata do modo de cozinhar vários pratos de todo o género de carnes, e de fazer conservas, pastéis, tortas, e empadas. A segunda parte trata de peixes, mariscos, frutas, ervas, ovos, lacticínios, doces, e conservas pertencentes ao mesmo género. A terceira trata da forma de banquetes para qualquer tempo do ano, e do modo como se hospedarão os Embaixadores, e como se guarnece uma mesa redonda à Estrangeira."
Em Portugal reinava D. Pedro II, casado com D. Maria Francisca de Sabóia (nascida em França) filha do Duque de Nemours onde La Varenne (François Pierre de seu nome) foi cozinheiro particular. Nesta época a gastronomia era considerada um dos aspectos da nova personalidade francesa, quando o pretígio político e cultural da França, em especial do seu Rei Luis XIV se afirmavam na Europa.
La Varenne publica em 1651 o seu livro chamado "Cuisinier François", com cerca de 100.000 exemplares editados na época, tendo sido uma referência para a pequena burguesia e para as donas de casa que procuravam receitas aristocráticas para os seus jantares e festas.
A influência da cozinha francesa e dos hábitos que a rainha trouxe consigo para Portugal, são determinantes na obra de Domingos Rodrigues, que reflete perfeitamente o que se passava na corte e nas grandes casas de França. O cozinheiro português teve oportunidade de servir uma rainha que se interessava pela boa cozinha e que provinha de uma família conhecida pelos bons cozinheiros.
Para publicar o seu livro, apesar de ser o cozinheiro real e por isso usufruir das regalias inerentes, teve que pedir autorização ao Tribunal do Santo Ofício, tendo sido pelo facto do Papa ter também cozinheiro que o despacho do encarregado da Inquisição foi mais favorável.
Não deixem de "saborear" esta obra ímpar da gastronomia e da nossa herança cultural e abram "apetite" para ler outras obras da Colares Editora que muito tem feito na recolha e publicação de obras sobre a temática da gastronomia.
1 Comments:
Muito interessante este blog.
Vou voltar com mais tempo e mais atenção.
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