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domingo, maio 29, 2005

Sensações Islâmicas

Talvez uma questão de perfumes. É isso. Se fecharmos os olhos (apesar de ter passado uma semana), talvez seja a memória dos odores a mais persistente. Incensos, especiarias, chás. A mistura dos cheiros mais "mouriscos" estava ali, ao alcance do nosso sentido olfactivo. Também ali estava a paleta cromática mais diversa que imaginar se possa. As tendas, as mantas, as roupas, os turbantes, as pulseiras, os colares, os espelhos. E as tatuagens!
E estavam sons de vida e misticismo. As pessoas que regateavam no Souk e ao mesmo tempo o acordeão que comunicava a sua alquimia de fantasias sonoras. Estávamos em Marrocos, parecia!
As ruelas de Mértola com todo o seu mudejarismo e mais o encanto do Guadiana a correr, a correr, transportam-nos realmente ao magrebe. E entretanto o calor, claro!
A nossa Moura, sentia-se em casa! Os seus antecedentes quiçá mesmo marroquinos (de quando os tetravós iam da Meia Praia até às costas do Norte de África), revelados na sua tez cor de café-com-leite, enquadravam-na perfeitamente no ambiente. E de repente (claro que tinha que lá estar) a outra Moura das nossas vidas: a -auto-apelidada- Aisha Berbere, amiga de há vinte anos, sempre mística, sempre alcançando estados de alma um bocado diferentes dos nossos, sempre tão verdadeira e tão coerente...vinte anos e o mesmo fio condutor de vida, os caminhos percorridos com poucas variações de conteúdo. Porque esta Aisha (amiga Cristina) sempre acreditou na sabedoria de certos Homens e nas alternativas à "coisa ocidental"...
Ali estava ela. Sentada no chão, vestida como as suas "irmãs islâmicas", a saudar-nos e logo de seguida a convidar-nos para a sua manta estendida, para nos servir um chá de menta feito por ela! Amizade é isto, estar em comunhão mesmo com o passar dos anos e com o trilhar de caminhos diferentes. Mas não distantes, já que a essência e o sentir continuam muito idênticos aos que eram dantes. Ficámos emocionados com este reencontro e sentimos que nada acontece por acaso. A nossa amiga Aisha lá ficou sentada sobre si mesma, a promover as suas viagens de Jipe a Marrocos, para se chegar a um local que (nas suas palavras) muda a vida das pessoas! E nós um dia destes queremos experimentar!
Já vai longa a conversa. Ainda temos que falar da Tagine de Borrego.
Estava fácil de apreciar, naquele ambiente e com as emoções da manhã! Estávamos numa "onda de gostar". Por isso, e apesar da displicência de atendimento e da confusão do Restaurante "Clube Náutico" (desculpável por se tratar de um dia de multidões), até apreciámos o borreguinho tenro, envolvido pelo molho, pelas tâmaras, pelo ananás e acompanhado pelo arroz com muito açafrão e poucas passas (ainda bem). O tinto "Monte Velho" que vai bem com quase todas as carnes, foi a escolha. Para não haver percalços gustativos. Os sabores misturaram-se na perfeição com o estado de espírito, com a agitação do local, com o calor. Boa preparação para a "meia hora de passeio de barco" que se seguia.
Bom, não foi a meia hora anunciada ("helás") mas os 15 minutos de percurso, tiveram sabor de sobremesa, envolta em brisa e em cântigas de pássaros. A nossa pequena e "selvagem" Moura, descalçou-se, arregaçou a saia e lá foi com os pés de fora virada para a água, numa dança de pernas ao léu! (Momentos que ficam fotografados nas nossas memórias de pais....ainda bem que temos aqui o lenço...:-))
Depois desta bonança tivemos um pequena tempestade... Por causa de uma tatuagem!!... Houve um chorinho e um levantar de vozes, que não deu no entanto para retirar o que tinha ficado de bom deste dia: o misticismo dos rituais, a miscelânia de referências culturais, a panóplia de sabores e odores. E o nome dela em árabe. Para mais tarde recordar!
Não se fala muito de comidas ou bebidas neste texto. Fala-se mais de sensações. Porque afinal, gira tudo à volta disso, não é?

2 Comments:

At segunda-feira, maio 30, 2005, Anonymous Anónimo said...

E lá vêm mais saudades! Trazidas por ti, Ludinais, que caminhas como o vento do deserto. Saudades de Marrocos, de todos aqueles odores de especiarias, das cores garridas, das músicas, do calor, dos inumeráveis chás de menta, das tagines disto e daquilo, das paisagens áridas, das montanhas nuas, dos entardeceres alaranjados, dos sumos de laranja...
E eu só estive por lá durante 7 dias...

 
At segunda-feira, maio 30, 2005, Anonymous Anónimo said...

Touché!! São mesmo sensações que perduram e que não pude documentar com a minha máquina fotográfica porque cheguei mesmo ao entardecer. De qualquer modo ficam os odores e o reencontro com amigos que há muito não via!
A.

 

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