Gosto, Não Gosto ... Em Alvito
Ermida de S. Sebastião - Rossio in "Ensaio Fotográfico -Alvito Dourado"
Gosto de ter chegado a Alvito atrás de um sonho. Não gosto de sentir que, por vezes, a realidade é afinal distante. Gosto de pensar que ainda posso viver o tal sonho. Gosto de gostar de Alvito. Não gosto de, às vezes, ser obrigada a não gostar. Não gosto de não poder dizer o que penso. Gosto de lutar por aquilo em que acredito. Não gosto de não poder acreditar em certas pessoas. Gosto do céu muito azul das manhãs de primavera em Alvito. Gosto das cores das flores na primavera de Alvito. Gosto dos vizinhos da minha rua e também de outros de outras ruas que não a minha. Gosto de ver o Castelo da minha janela. Gosto de viver numa vila com Castelo. Não gosto de pensar que os Alvitenses vivem à sombra do Castelo. Gosto muito da lua cheia e intensa a espreitar no céu negro do meu quintal. Gosto das luzes da Matriz e de S. Sebastião. Não gosto da falta de luz de Sta. Luzia e Sto. António. Gosto de descer em passo de corrida a Rua do Salvador e atravessar o Rossio e as Alcaçarias ao ondular da brisa das manhãs. Gosto dos nomes das Ruas em Alvito. Não gosto de ver paredes com falta da cal branquinha. Gosto dos portais e janelas manuelinas. Gosto dos frescos das nossas igrejas e capelas. Não gosto que as pessoas não percebam a importância e o valor que eles têm. Não gosto de gente cheia de certezas. Gosto de gente que vê mais longe. Gosto da História de Alvito e de pessoas que fazem com que as memórias do concelho sejam revisitadas. Gosto dos velhinhos que se sentam ao pé da fonte. Não gosto quando alguém não responde aos meus bons dias. Gosto de ouvir pardais e rouxinóis a cantar e esvoaçar por cima da amoreira. Não gosto que tapem o Largo das Alcaçarias. Gosto de perceber que mesmo com o largo tapado, as pessoas nos descobrem. Gosto quando os viajantes saem de Alvito com o desejo de voltar. Não gosto das "vistas curtas" e da inércia de algumas pessoas. Gosto de muitas pessoas de cá. Não gosto que muitas se desliguem das coisas da sua terra. Gosto quando alguém me diz que se interessa. Gosto de "Água de Peixes". Não gosto de ter de dizer que a entrada é proibida. Gosto de me entusiasmar quando alguém percebe o meu gosto... por Alvito. Não gosto que não gostem de Alvito. Gosto de acreditar que Alvito vai seguir em frente. Gosto de ser uma forasteira que veio com os seus dois amores atrás do sonho... para Alvito.
Escrito em Agosto, 2002.
Revisto em Junho, 2003. (Curiosamente, quase um ano depois continuo a gostar e a não gostar das mesmas coisas... mas como se percebe pelos “gostos” o balanço é francamente positivo)!
Transformado em “Post” em Setembro, 2005. Quando tudo permanece na mesma…
9 Comments:
Gosto deste texto! Goistava de escrever um assim...mas acho que seria impublicável caso fosse, realmente, sincera.... ;)
Podem crer que me tocou profundamente o desenrolar deste texto. Até os olhos ficaram enevoados pois foi como se de mim brotassem essas palavras.
O tempo ausente de Alvito nunca me fez esquecer os bons e maus momentos que aí passei. Nunca se apagaram de mim essas ruas e esses largos, essas casas, essas igrejas, esses homens e essas mulheres. Continuei sempre com Alvito no coração e assim espero mantê-lo.
Obrigado por esse texto tão belo e tão amigo. Tomara todos os Alvitenses terem acesso à sua leitura.
Se me derem permissão terei todo o gosto em transcrevê-lo no "BEJA".
Fico aguardando notícias vossas.
Felicidades
Alvito começa por ser paixão e depressa se transforma em caso de amor! Ainda bem que gostou. É simples mas verdadeiro, acredite!
As suas palavras é que são sempre belas! Ficamos-lhe de novo agradecidos!
É claro que poderá colocá-lo no "Beja"! Seria uma grande honra!
Abraços alvitenses...de coração!
Gosto dos que gostam da minha terra.
Não gosto do gosto de quem manda nela.
Após algumas tentativas lá consegui finalmente passar o texto com ligeiras alterações de cores devido à diferença de fundos. Também a net-cabo interferiu na "postagem" e dificultou um pouco mas tudo acabou em bem. Espero que não desiluda com a transcrição e agradeço mais uma vez este belo contributo para o conhecimento de Alvito.
Abraços amigos
Acho muito interessante essa viagem pelas contradições alvitenses. De facto, quem conhece a nossa terra, sabe das suas históricas tradições irregulares, quer ao nível dos comportamentos humanos, quer na tradução destes na própria arquitectura e nos outros varaidos registos antropológicos. Somos árabes cruzados com romanos e… com uns laivos de lusitanos. É muito difícil mudar esta identidade, ainda que, em algumas ocasiões, nos apareça da pior maneira.
A título de referência, vejam o que diz Fialho de Almeida nas “Estâncias de arte e saudade” sobre o Castelo de Alvito.
Continuem com este magnífico trabalho!
Agradecemos todos os comentários.
Entretanto continuaremos a trabalhar e a amar esta terra. Cada um de nós à sua maneira, mas decerto com intensidade e verdade.
Alvito merece.
Muito bonito! Só alguém que se apaixonou por esta terra pode escrever um texto assim. Parabéns! Com a devida vénia, transcrevi-o no Alvitrando. Peço desculpa por não ter mantido a forma mas não sei como fazer.
Parabéns! Só alguém que se apaixonou por esta terra podia ter escrito este texto. Com a devida vénia, transcrevi-o no alvitrando. Peço desculpa por não ter conseguido manter a forma mas não sei como fazer.
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